Minha primeira viagem e segundo acidente

Pedra do Baú
Sim, eu caí de novo. Mas dessa vez não tive culpa nenhuma e nem a Intruder! Que minha experiência possa te ajudar na sua primeira viagem e entenda que a vida é um sopro, um milagre. Eu estava planejando viajar com a Intruder para o interior de São Paulo.
Sei que o motor dela não é o mais indicado para a estrada e que a viagem seria mais sofrida justamente pela falta de potência, mas é possível sim viajar de 125cc.


Entretanto se eu esperasse ter uma "supermoto" para pegar a estrada sem medo, ter dinheiro sobrando e etc, esse dia certamente nunca chegaria.

Mais que uma simples frase motivacional, uma verdade!

Eu queria uma 250cc para viajar e uma graninha sobrando, fui de 125cc mesmo, com cartão de crédito e grana trocada para pedágio. Nunca peguei estrada e não tenho noção nenhuma de como me virar nas rodovias.

Decidi comprar um GPS específico para motos e uma câmera fotográfica para registrar os melhores momentos. Esperei entrar de férias para poder viajar. Comprei o GPS da multilaser neste anúncio aqui e a câmera fotográfica neste aqui.

Não é o melhor GPS do mundo e nem a melhor câmera, mas é o que eu posso pagar no momento (em 12 vezes no cartão, obviamente!!!). Ou seja, fazer o que posso com o que eu tenho.

No dia seguinte à entrega do GPS, levei a moto na oficina para instalação. Valeu muito à pena, sem ele essa viagem não seria possível. Sempre quis conhecer Campos do Jordão e aproveitei minhas férias para realizar o bate e volta.

O ângulo da foto faz o GPS de 4,3 polegadas parecer gigantesco.

Quanto à manutenção da moto, não fiz nada demais. Apenas completei o tanque de gasolina pois os pneus e o kit relação dela são novos. Na verdade eu subestimei essa moto, fui e voltei sem problema mecânico nenhum, justamente por ter a manutenção dela em dia.

A viagem

Saí de casa as 10 horas da manhã para um bate volta até Campos do Jordão. Pelo GoogleMaps são quase 200 KM de distância e esse percurso seria feito em aproximadamente 2 horas e 30 minutos. A ideia era conhecer a cidade, tirar algumas fotos, almoçar e logo em seguida voltar. Bem, não foi exatamente o que aconteceu!

Campos do Jordão, aí vou eu!

Cheguei na cidade por volta das 14 horas, fazendo apenas uma parada durante a viagem para comprar uma água e um beliscão (biscoito amanteigado com goiabada). Parei também pois o corpo precisava dar uma esticada. Você sente que precisa dar uma pausa, os braços começaram a formigar e o sol estava forte. Essa pausa de 20 minutos foi fundamental para seguir viagem.

Motoca posando pra foto na entrada da cidade.
 
Quando você se aproxima do município, há uma placa dizendo que a altitude é de 1.000 metros. Quer dizer que você vai subir isso tudo nos próximos quilômetros. Neste momento foi exigido mais da motoca, subida de serra não perdoa nenhuma 125. Minha dica aqui é calibrar bem os pneus e ficar na faixa da direita (na verdade, você fica na faixa da direta o trajeto todo.)

O acidente

Chegando em Campos, fui seguindo as placas até o meu destino. Queria visitar o Palácio do Governo (Palácio da Boa Vista) que fica nas extremidades da cidade. Pelas fotos que você acha na internet dá pra perceber que o local é bonito. Acabei dando uma volta desnecessária pois me confundi seguindo as placas. Mas quando encontrei o caminho certo...

Minutos antes da queda, percebi que a rua em que eu seguia estava deserta.
Não tinha ninguém (afinal, era terça de carnaval né?). Continuei o caminho, com velocidade segura e quando me aproximo da curva, um gol quadrado gira na pista, invade a contra mão e me acerta em cheio.

Não foi nesta curva exatamente, mas em uma muito parecida com esta.

O carro girou na pista e acertei a traseira dele, o susto foi enorme pois não passava carro nenhum. Não tive tempo de resposta, uma vez que a curva era muito fechada e quando percebi não dava tempo de mais nada a não ser frear tudo o que dava.

A parte da frente da moto chegou a ficar embaixo do carro, eu acertei o rosto no vidro traseiro e fui jogado pra trás. Não desmaiei e não fraturei nenhum osso por milagre. Quando caí me levantei por instinto e olhando a moto no chão, não conseguia segurar as lágrimas.

Mas eram lágrimas de raiva e eu só conseguia dizer "não acredito, não acredito!!"
Não quebrei o vidro traseiro com a pancada, mas a viseira do capacete saiu inteira e o nariz sangrou um pouco. No momento me doía muita mais ver a moto daquele jeito do que outra coisa. Com o impacto, o baú se desprendeu da moto e abriu, jogando minha capa de chuva, botas, biscoito, água e documentos pra todo lado na pista.

Fotografia registrada no dia seguinte, enquanto procurava o Palácio do Governo.
 
A câmera digital ficou intacta pois eu levava no bolso da blusa, essa rasgou em dois pontos, a calça jeans tinha uma marca de queimado causada pelo guidão. Após me levantar rapidamente, chorar e ver a moto, dei uns passos pra trás e sentei no chão. O rapaz do gol, veio em minha direção e se prontificou em ver meu estado geral. Eu dizia que estava viajando, que não conhecia ninguém na cidade e que era de São Paulo.

Quando o SAMU chegou, me perguntaram o que tinha acontecido. Do jeito que o carro estava na pista, a impressão que se tinha era que eu é que tinha causado o acidente (sabe aquela história, quem bate atrás está errado? Então.) entretanto, consegui explicar tudo. Me colocaram na prancha com aquela proteção no pescoço e fui pro hospital. O rapaz do gol chamou um amigo e levaram a motoca na caçamba de uma saveiro.

Fotografia da Pedra do Baú, vista a partir do museu ao ar livre Felicia Leirner.

No hospital tirei raio-x da coxa esquerda pois era o local que mais doía. Não tinha fratura nenhuma, apenas dor muscular. Assim que o médico me liberou, a polícia já estava registrando o boletim de ocorrência, ali mesmo no hospital. O rapaz do gol assumiu toda responsabilidade pelo ocorrido. Na verdade ele perdeu a traseira na curva pois tinha areia e acabou perdendo a tração.

Como ele se prontificou a pagar as despesas, não prestei queixa. Expliquei que não conhecia ninguém na cidade e dormi na casa do rapaz mesmo, conheci seu pai, sua esposa e sobrinho. Tive sorte por dois motivos, o primeiro por não ter quebrado nada e o segundo, de ter me acidentado com uma pessoa de palavra e que assumiu o erro.

Moça, tira uma foto pra mim? Obrigado.

Imagina se ele fugisse do local? Imagina se eu quebrasse um osso ou perdesse um membro? São muitas possibilidades negativas e eu não gosto de imaginar o que poderia acontecer. Apenas agradeço por estar vivo. Na manhã seguinte, levamos a moto à uma oficina, trocamos o guidão e os piscas dianteiros.

O tanque e o para-lama da moto amassaram, minha coxa ficou com um hematoma por acertar o guidão e entortar o tanque. Como ele não conhecia ninguém para arrumar o tanque e não tinha para-lama na loja, combinamos que eu trocaria em São Paulo o que faltava pra deixar a moto como antes e que ele me pagaria.

O que foi trocado na moto?

Em Campos do Jordão troquei o guidão e os piscas (todos da Honda CG).
Isso era o mínimo para poder pilotar de volta com ela. Aqui em São Paulo, troquei o para-lama, alinhei a roda dianteira e desamassei o tanque de combustível.

Lista de peças/serviços executados a título de pesquisa e registro.

Guidão Honda CG utilizado na volta, estou vendendo na OLX. Tá novinho!

Troquei também o guidão da CG pelo original, pedal de câmbio, cabo do velocímetro e do acelerador. Vou buscar o tanque amanhã no funileiro e aí sim estarei pronto para outra viagem. Para retirar o tanque não tem segredo nenhum, é fácil.

Algumas fotografias

Na manhã seguinte, depois de buscar a moto na oficina, fui passear pela cidade e conheci o auditório Claudio Santoro e o museu Felicia Leirner, mesmo com o corpo todo dolorido.
Pensei; "se já cheguei até aqui, agora eu vou é curtir". E fui mesmo!!!

No fim não deu pra visitar o Palácio pois estava fechado por ser quarta-feira de cinzas.







PS - Minha dica é a seguinte; pega essa motoca e vai, vai ser feliz!
Rodei 400 KM (ida e volta) com ela e já estou me achando, imagina então a Fá Intruder que foi até o Chile (!!!) de Intruder 125cc. Atualmente ela está dando um "rolezinho" pelo nordeste.

Ela foi a inspiração para minha primeira viagem de 125cc e deixo aqui registrado meus agradecimentos! Link do blog da Fá Intruder.

PS 2 - Tem também o livro Manual do Viajante Solitário, escrito pelo José Albano. Ele percorreu as estradas do Brasil com uma 125cc da Honda . Tem algumas fotos neste link e este vídeo no Youtube, muito inspirador. Recomendo!

Ainda não decidi o próximo destino, mas publicarei as fotos assim que voltar.
Espero que este texto te inspire e incentive a viajar também!
Grande abraço!

Comentário(s)
14 Comentário(s)

14 comentários:

  1. Parabens voce e corajoso viajou sozinho na intruder a minha e uma 2007 comprada no leilao dos correios nao passa de 100 na reta. Por isso tenho medo de viajar nela.

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  2. Boa tarde a todos!
    A "Motona" (minha Intruder 125, 2006, que é uma mistura de moto e azeitona, pois pitei ela de verde azeitona)foi minha primeira e é minha atual moto. Comprei ela sem saber andar (só tinha a habilitação que havia tirado 16 anos antes)para ir trabalhar em uma cidade 56km distante da minha. Faço o percurso 5x por semana. Em alguns dias rodaremos 100.000km juntos (5 anos juntos, 20.000km/ano, 1.000km/15dias). Acidentes na estrada: "zero". Só um "rebitado" que me acertou a traseira dentro da cidade há uns 2 anos. Minha dica para a estrada: pneus não muito cheios (aumenta a aderência), revisão em dia (mas tem coisa que não dá para prever mesmo), o tempo todo de olho no retrovisor e lembrar que ela é 125cc. Fora isso, vou e volto conversando com o Senhor e agradecendo por ter comprado essa moto maravilhosa! Pensar em trocar?! Claro que queria andar mais, mas dá um aperto no coração só de pensar nela com outro!!!
    Abraços!
    Tiago B. Covre (tiagocovre@yahoo.com.br)

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  3. Olá boa tarde.

    sou de Natal-Rn e já fui duas vezes a Salvador-BA na minha intruder 2013... a distância entre Natal e Salvador pelo GPS é de 1080km... ou seja ida e volta 2160km... a primeira vez a moto estava com 5000km e na ultima vez estava com 20.000km... hj a intruder está com 60.000km firme e forte...o ponto negativo é que aqui na minha cidade não tem concessionária Suzuki e peças nas lojas são bem salgadas quando se acha...

    Abraços,

    Marcelo

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  4. @Info Name
    Obrigado! A minha também não anda nada, chora pra chegar a 90.
    Eu nunca consegui colocar 100 nela, e nem quero pra falar a verdade.
    Abraço!

    @Tiago
    Legal seu depoimento. A minha também é 2006, é uma belezura só.
    Vender jamais! Vai ficar pros meus netos!!!! Abraço!

    @Marcelo
    Boa tarde! Pois é, a concessionária sempre mete a faca, não tem jeito.
    Paguei chorando o tanque, agora penso em comprar um protetor pra ela.
    Abraço!

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  5. Muito legal a sua história com a Trudinha. Acabei de comprar uma Intruder 250 1997 que está uma beleza! Depois de ler sua narrativa bateu uma vontade danada de me aventurar em alguns passeios mais longos. Espero que você continue a se divertir com sua motoca.

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  6. @Andre
    Obrigado pelo comentário, André. Aproveita esse motorzão da Trudona e boa ela pra rodar. Pretendo continuar a viajar, mas confesso que gostaria de um motor maior para pegar estrada. Uma 250 seria perfeito. Um abraço!!

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  7. comprei a minha zero km em 29/01. rodei apenas 100 km, mas ja compartilho com vcs a sensação de nao querer vender tão cedo. vcz que tem ela ha muito tempo, tem dicas de conservação para a aparência?

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  8. @Unknown
    Parabéns pela aquisição. Lave a moto toda semana, com detergente neutro mesmo. Sempre comece pelo tanque, depois banco, vai pro painel, bengalas, e etc. Deixe as rodas pro final, depois de limpar, esticar e lubrificar a corrente. A minha já tem 10 anos de vida e parece muito nova. Lave na sombra e nunca deixe o sabão secar nela. O melhor jeito e esfregar ela por partes e ir tirando a espuma com água. Depois de tudo, seque com o mesmo pano que lavou (pode usar outro pano limpo se precisar). É assim que faço com a minha motoca. Abraço!!!

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  9. Já tive várias motos, a maior uma Yamaha XVS 650 e menor uma cripton 115, ano passado passei com uma tenére 250 2012 vendi e agora peguei uma Intruder 125 2008.Acho que ela chega a 100 km/h fácil, mas nem na 650 eu viajava acima dos 120 por hora, pois, não é a velocidade que faz a viagem. Sempre tenho dois critérios para viajar: o menor tempo na estrada da maneira mais segura. Com a 650 viajei da BA a SP em 2015 e com a Tenere fiz 3 viagens entre BA e SP no ano passado (3000 km ida e volta cada viagem) , sempre a noite e sempre em menos de 18 horas cada viagem.Gostei muito da Intruder, estou dando aquela geral nela, vou colocar um baú, deixa-la decente, pra ir a Porto Seguro nos fins de semana. Vou pintar o tanque dela e colocar o baú antes de fazer um bate e volta na praia. Uma dica pra quem vai viajar de moto: nunca saia tarde, saia sempre logo após o nascer do sol pra aproveitar a luz natural pra viajar,se possível evite paradas o tempo todo, em uma das minhas viagens entre SP e BH fiz apenas uma parada, no mínimo rodo 200 km antes de parar, agora só esperar mais uns dias pra fazer um role na praia com a Intruder

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  10. Boa tarde tudo bem ?
    Achei sua aventura muito interessante, o máximo que viajei com a minha intruder 125 foi para a praia de são vicente +/- uns 65Km, na ida tudo de boa mil maravilhas, mas na volta o sofrimento total imagina eu pesando 55kl, e o garupa uns 80kl magrelinha não passava de 60kmh isso na 4° marcha, mas a viagem foi bem aproveitada.
    Gostaria também de sair em conjunto junto com outras pessoas que tenham a mesma moto ou pelo menos 125, se tiver alguém interessado por gentileza deixar o comentário (não gosto de viajar sozinho ) =\

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  11. @Jackson
    Muito obrigado pelo seu relato, muito interessante. Forte abraço!

    @Unknown,
    Tem um grupo no facebook; https://www.facebook.com/groups/146014842170015/?ref=br_rs onde podemos marcar algum encontro de Intruder ou passeios. Viajar sozinho é meio perigoso, mesmo. Abraço!

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  12. poxa rapaz, quero muito fazer uma viajem dessas, eu sou do rio, e queria muito fazer uma viajem do rio para joao pessoa.mas sozinho ficaria ruim pra mim,se quiser fazer uma viajem dessa responde ai!!!

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  13. O guidão da CG que voce usou nela ficou bom? Ficou bem fixado sobre a mesa? Eu tenho uma intruder mas o que eu menos gosto nela é o guidão largo estilo custom, eu gostaria de um guidão menor pra ter mais agilidade no corredor. Voce recomenda o uso do guidão da CG? Na rodovia durante a volta o guidão mais curto deu menos estabilidade?

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